O início eram as sangrias… Na Antiguidade, há milhares de anos, os
médicos utilizavam sanguessugas para tratar de seus pacientes. O tempo passou:
novas técnicas, equipamentos e tecnologias foram surgindo, facilitando o
trabalho desses profissionais e garantindo uma vida mais longa para todos nós.
Mesmo com tudo o que já descobrimos a ciência não pára de trabalhar para
ampliar ainda mais os horizontes da Medicina. E, dentre essas maravilhosas
inovações, uma das mais impressionantes e com maior variedade de aplicações
possíveis é a radiologia intervencionista, especialidade médica que, através de
tubos finíssimos e de aparelhos de imagens, consegue atuar no interior de nosso
corpo de forma nunca antes imaginada.
Essa especialidade diferencia-se por ser minimamente invasiva – em
outras palavras, utiliza-se de cortes muito pequenos para inserir, nas veias e
artérias, minúsculos cateteres, stents, molas ou agulhas para realizar
procedimentos e fazer diagnósticos em diversas partes do corpo. Muitas vezes,
como alternativa às cirurgias complexas, que exigem grandes cortes e anestesia
mais profunda, profissional radiologista intervencionista, atua de forma menos
invasiva. Os procedimentos são realizados com auxílio de um método de imagem,
que pode ser o ultra-som, a tomografia computadorizada, a angiografia por
subtração digital e a radioscopia, equipamento de alta resolução de imagem
capaz de subtrair as imagens de osso vísceras, propiciando imagem apenas dos
vasos sanguíneos e, em alguns equipamentos, a reconstrução em três dimensões e
até imagens do interior do vaso.
ÚTERO
A embolização de
mioma uterino é um dos procedimentos mais comuns da radiologia
intervencionista. Mioma é um tipo de tumor benigno que surge na parede do
útero, bastante recorrente em mulheres na faixa de 30 a 40 anos.
A embolização é a
injeção de minúsculas partículas que bloqueiam o fluxo sanguíneo que alimenta o
mioma, fazendo-o regredir e solucionando o problema com um grau de sucesso
entre 85% a 95% dos casos. Este tratamento pode ser uma alternativa efetiva à
cirurgia tradicional, na qual é retirado o mioma (miomectomia) ou todo o útero
(histerectomia). Na embolização, a anestesia é local e o tempo de recuperação é
menor. O retorno às atividades profissionais e pessoais é rápido.
ARTÉRIAS E VEIAS
VASOS
A radiologia
intervencionista conhecida como vascular envolve todos os procedimentos que
utilizam artérias e veias como via de acesso para que o catéter chegue ao órgão
doente. Porém, em se tratando das próprias veias e artérias, a técnica também
tem muito a oferecer, principalmente no tratamento de embolia de pulmão e
varicocele. Também são realizados, por meio dessa especialidade, procedimentos
para reabrir ou ampliar vasos sangüíneos obstruídos, como no caso de
arteriosclerose (endurecimento das artérias) e aneurisma de aorta abdominal e
torácico, além da dilatação das artérias carótidas e vertebrais que levam o
sangue ao cérebro. O fechamento da passagem de sangue pode levar à perda de membros,
derrame cerebral ou comprometimento de órgãos vitais por ocorrência de
infartos, derrames e aneurismas. A técnica também possibilita a abertura de um
acesso venoso central, recomendado para pacientes que fazem tratamento de
hemodiálise ou quimioterapia. Um tubo é inserido pela pele, obtendo-se um
acesso simples e indolor para medicações ou coleta sanguínea, livrando o
paciente da irritação e desconforto de repetitivas picadas.
CÂNCER
Para pacientes com
câncer, a radiologia intervencionista é uma aliada cada vez mais importante
tanto na biópsia quanto no tratamento mais rápido, seguro e indolor. Segundo o
oncologista Dr. Valdir Furtado, a técnica pode ser utilizada quando o câncer
não tem indicação cirúrgica, e principalmente nos casos de câncer de pulmão,
mama, ovários, testículos, linfomas e leucemias.
Para alguns tipos
de tumores, a quimioembolização é a técnica de tratamento indicada. Pelo
catéter, é injetada uma combinação de medicações quimioterápicas para eliminar
as células cancerígenas, seguida de pequenas partículas para bloquear as
artérias que alimentam o tumor. Este procedimento não significa a cura, mas
estudos mostram que em 70% dos casos reduz as lesões, as dores, melhora a
qualidade de vida e pode aumentar a sobrevida. A quimioembolização permite
evitar ou atenuar os efeitos colaterais das drogas, como quedas de cabelo,
náuseas e vômitos. Outra alternativa para o tratamento dos tumores de fígado é
a radioablação, realizada através da inserção de uma agulha pela parede do
fígado. Esta é ligada a uma fonte geradora de radiofrequência que faz com que o
tumor seja integralmente destruido através de uma energia semelhante ao forno
de microondas.
CÉREBRO
Em relação à
neurologia, a radiologia intervencionista volta-se para o diagnóstico e
tratamento de doenças do cérebro, cabeça e pescoço, por meio de um catéter que
viaja dentro do corpo através dos vasos sanguíneos. No tratamento de aneurisma
cerebral, o catéter chega até o local e serve de condutor para fios muito finos
de metal (as micro-molas de platina) que ocupam toda a área e isolam o
aneurisma, impedindo a entrada do sangue e o rompimento da lesão, solucionando
o problema sem a necessidade de cirurgia. A técnica é chamada de embolização de
aneurisma cerebral.
FÍGADO
Um tipo de tumor de
fígado, chamado carcinoma hepatocelular, comumente associado à cirrose e ao
vírus da hepatite C, tem entre as indicações específicas de tratamento a
ablação por radiofreqüência. O método consiste na introdução de uma agulha que
chega ao tumor e conduz uma onda de radiofreqüência, “queimando” e destruindo
células afetadas pelo câncer. Todo o procedimento é guiado por imagens geradas
através de aparelhos de utra-som, tomografia computadorizada. O shunt
intra-hepático porto-sistêmico, conhecido no meio médico através da sigla em
inglês “tips” e realizável por poucos profissionais radiologistas
intervencionistas em nosso país, também é muito comum e cria uma comunicação
entre duas veias dentro do fígado, fazendo com que o estado de hipertensão
dentro do sistema venoso da veia porta(veia que leva sangue ao fígado), comum
em pacientes com cirrose hepática, seja descomprimido. Coloca-se um stent (tubo
metálico) para garantir uma maior durabilidade deste procedimento. Outro
procedimento intervencionista a drenagem biliar, em que um cateter é colocado
através da pele do interior do fígado para drenar a bile. A necessidade deste
procedimento é em geral devido a uma obstrução dos dutos biliares, responsáveis
pelo carregamento da bile do fígado ao intestino e que, quando ocorre, leva o
paciente a um quadro de indisposição e coceira (prurido) intenso, com perda
significativa da qualidade de vida.
COLUNA
Na área ortopédica,
a radiologia intervencionista trata principalmente dores na coluna vertebral,
um dos males que mais atinge homens e mulheres em todo o mundo. Um exemplo no
qual este método se aplica com alta taxa de sucesso (em torno de 80% a 90% dos
casos) é no tratamento de vértebras fraturadas ou fraturas associadas a doenças
como a osteoporose. Para estes pacientes, a indicação mais adequada é a
vertebroplastia percutânea, um procedimento que utiliza cimento ortopédico
injetado diretamente na vértebra que apresenta a lesão, criando um bloco sólido
que dá sustentação e elimina dores, mesmo em pacientes muito idosos e com quadro
avançado de osteoporose. A volta às atividades normais, após a intervenção,
pode ser feita em dois ou três dias, acelerando não só a recuperação física
como também melhorando a disposição psicológica dos pacientes, que retomam a
independência e a funcionalidade dos movimentos.
Esses são apenas
alguns exemplos de todos os benefícios que a radiologia intervencionista tem a
oferecer. Sem dúvida, essa especialidade torna-se, a cada dia, mais relevante
na medicina, envolvendo mais de cinquenta tipos diferentes de procedimentos por
todo o corpo, com as mais diversas finalidades. A melhoria constante nos
equipamentos angiográficos e nos materiais possibilita, cada vez mais, o
tratamento de doenças de forma menos agressiva para o paciente. “A radiologia
intervencionista não é mais um diferencial nos hospitais, mas sim uma
necessidade. A interdependência das várias especialidades médicas com a
radiologia intervencionista chega ao ponto de tornar um fator de risco
adicional a não-existência deste serviço”, considera o Dr. Corvello. Um futuro
brilhante nos espera.
Fonte: Instituto de Radiologia Intervencionista do Paraná