É crescente a utilização de exames de
imagem na prática médica. Se tomarmos como exemplo os exames de tomografia
computadorizada nos Estados Unidos, o número passou de 2 milhões por ano em
1980 para 65 milhões em 2003. A estimativa para o ano atual (2010) é de 100
milhões de exames. Outros exames que se valem de menor dose de radiação são
usados de maneira rotineira para o rastreamento de doenças como o câncer de
mama e a osteoporose.
E há pessoas que sofrem de doenças crônicas
ou condições clínicas que exigem acompanhamento médico prolongado e acabam
sendo submetidas a grande número de exames de diagnóstico por imagem ao longo
da vida. Surge então a dúvida quanto ao risco de exposição à radiação. Veremos
abaixo algumas dúvidas frequentes de médicos e pacientes sobre o assunto.
1. Se jamais formos submetidos a exames ou
terapias que envolvam radiações ionizantes nunca estaremos expostos?
Todos os seres vivos sofrem ação da
radiação ionizante presente no ambiente, como a do gás radônio encontrado em
nossas casas e a proveniente dos raios cósmicos. Essa radiação de fundo é
diferente em diversos pontos geográficos do globo. Em países industrializados,
chega a 3,0 mSv ao ano.
2. A excessiva exposição a radiações no
presente pode aumentar o risco de câncer ou outros problemas no futuro?
As radiações ionizantes podem provocar
lesões na estrutura das células. Altas doses de raios X, aplicadas de maneira
focada a pequenas áreas do corpo e por tempo prolongado, podem ser utilizadas
para o tratamento de certos tipos de câncer (radioterapia). Nesse caso, o
objetivo é provocar a morte das células tumorais, que têm alta taxa de
proliferação e são, por isso, mais sensíveis à radiação ionizante que as células
normais.
As doses de radiação utilizadas nos exames
diagnósticos não têm o potencial de provocar morte celular. Mas poderiam,
eventualmente, provocar mutações genéticas com potencial de provocar câncer ou
doenças congênitas na prole. Acredita-se que esses efeitos são dependentes da
dose recebida ao longo da vida. É o que chamamos de efeito cumulativo.
Há aumento do risco para a maioria dos
tumores sólidos pela exposição à radiação ionizante. A associação entre
radiação e o surgimento de tumores é mais evidente em alguns tipos, como o câncer
da tireoide e a leucemia.
3. Há evidências claras sobre baixas doses
de radiação capazes de provocar danos celulares que levem a malformações ou ao
câncer no futuro?
A maioria dos estudos que avaliam os
efeitos da exposição de seres humanos à radiação ionizante é baseada nas
observações de populações sobreviventes de explosões nucleares como Hiroshima e
Nagasaki, acidentes nucleares, como Chernobyl, ou em pacientes submetidos à
radioterapia. E, enquanto os pacientes submetidos a exames diagnósticos são
expostos a pequenas doses de radiação em diferentes momentos, as pessoas das
populações estudadas naqueles trabalhos foram submetidas a doses bem maiores de
radiação em um determinado momento. Há poucos estudos avaliando o risco de
câncer em populações expostas à radiação em testes diagnósticos.
4. É seguro realizar exames periódicos que
envolvam radiações como as radiografias convencionais, a mamografia e a
densitometria óssea?
Alguns exames expõem o paciente a níveis
muito baixos de radiação. Por exemplo, uma radiografia do tórax expõe o
paciente a 0,1 mSv. Isso equivale a 10 dias de exposição à radiação ambiente.
Uma cintilografia óssea usa uma dose de radiação de cerca de 0,05 mSv – o
equivalente a cerca de seis dias de exposição à radiação ambiente. Para a
mamografia, a dose é de 0,7 mSv – o equivalente a três meses de exposição à
radiação ambiente. A densitometria óssea e radiografias de extremidade – como a
do antebraço, por exemplo – geram uma dose equivalente a menos de um dia de
exposição à radiação ambiente (0,001 mSv). Por isso há tanta confiança na
segurança do uso da mamografia e a densitometria ósea sea para o rastreamento
do câncer de mama e da osteoporose, respectivamente.
5. Então não há razão para preocupação
quanto à dose de radiação em exames de imagem que envolvam radiações?
Exames como a tomografia computadorizada,
especialmente as mais modernas, com várias fileiras de detectores, submetem o
paciente a doses maiores de radiação e devem ter sua indicação limitada a
situações mais específicas. Para exemplificar, uma tomografia computadorizada
de abdome e pelve oferece uma dose de radiação efetiva de 10 mSv a 14 mSv, o
equivalente a cerca de quatro anos de exposição à radiação de fundo.2,9 Alguns
autores preconizam inclusive a indicação de exames de ressonância magnética (de
maior custo) como alternativa, devido à alta dose de radiação da tomografia.
6. Gestantes e crianças são mais
suscetíveis aos efeitos nocivos das radiações?
Há grupos de pacientes que merecem
consideração especial quanto ao risco de exposição: as gestantes e as crianças.
Isso porque as células jovens do embrião, do feto e das crianças estão em
desenvolvimento acelerado e há maior expectativa de tempo de vida para que
alterações tardias possam se manifestar.
7. Não se devem realizar exames que
envolvem radiações em gestantes e crianças?
Apesar do maior risco para o feto e para
crianças, como dissemos anteriormente, o risco individual é muito pequeno e o
benefício potencial do exame, quando bem indicado, justifica o procedimento
diagnóstico.
Exames da cabeça, pescoço e extremidade das
gestantes podem ser realizados com alguns cuidados especiais, praticamente
isentando o feto de radiação ionizante significativa. Eventualmente, exames que
envolvem o abdome podem ser necessários. Nesse caso, os médicos dão preferência
a exames que não utilizem radiação ionizante, como a ultrassonografia. Mas se
mesmo assim houver justificativa para um estudo radiológico, as evidências
apontam ser muito baixo o risco individual de algum malefício potencial.
Cuidados especiais para a redução da dose,
como protocolos otimizados de tomografia computadorizada e aventais de chumbo
para proteger o feto ou órgãos suscetíveis de radiação espalhada devem ser
tomados nesses casos. É importante que a mulher grávida mencione sua condição
de gestante ao médico ou ao técnico que realizará o exame.
8. Qual a percepção dos médicos em relação
a risco de malformações associadas a exposição de gestantes a exames
radiológicos e tomografias computadorizadas?
Um estudo canadense verificou que tanto
médicos de família quanto obstetras têm percepção exagerada quanto ao risco de
malformações fetais em gestantes expostas a exames radiológicos e tomografias
computadorizadas. Essa percepção exagerada se transmite para pacientes e
familiares e tende a determinar ansiedade desnecessária ou mesmo a não
realização de um exame importante para a definição do diagnóstico.
9. Quais os princípios da proteção
radiológica?
Os médicos radiologistas, tecnólogos e
técnicos são treinados para limitar a exposição do paciente à menor dose de
radiação necessária para o diagnóstico correto. São três os princípios básicos
da proteção radiológica: justificação, limitação da dose e otimização. O
princípio da justificação diz respeito à indicação do exame. Somente se deve
indicar um exame que exponha o paciente a radiação ionizante se os benefícios
potenciais trazidos pelos resultados dos exames superem os riscos envolvidos. A
limitação da dose é estabelecida na legislação. No Brasil, o órgão responsável
pela regulamentação das doses de radiação é a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). A otimização quer dizer que devem ser utilizadas doses tão
baixas quanto razoavelmente exequíveis, considerando os fatores econômicos e
sociais. É o princípio ALARA (as low as reasonably achievable).
Em suma, a proteção radiológica deve ser
levada em conta desde a indicação do exame, passando pela colimação (foco) do
feixe de raios X, excluindo áreas fora do interesse diagnóstico, filtros para
evitar raios X de baixa energia que não contribuam para o diagnóstico, e
equipamentos de proteção radiológica. Entre os equipamentos, há óculos
plumbíferos, protetores de tireoide, luvas e aventais plumbíferos. Há
preocupação especial em proteger as pessoas cujo trabalho envolve a exposição
diária a fontes de radiação ionizante. Esses trabalhadores fazem uso de um
dispositivo que calcula a dose acumulada de radiação a que foram expostos: o
dosímetro.
10. A realização de exames de
ultrassonografia pode prejudicar o feto?
Nem todos os exames de diagnóstico por
imagem utilizam radiações ionizantes, que são as radiações com potencial de
provocar lesão celular. A ultrassonografia não se vale de raios X ou isótopos
radioativos para a formação das imagens. O paciente é exposto a ondas sonoras
de alta frequência e não a radiações ionizantes. Nunca foi demonstrado que as
intensidades de ultrassom utilizadas para exames diagnósticos estivessem
associadas a algum tipo de efeito indesejado ao feto. De fato, a
ultrassonografia é um exame seguro à gestante e ao feto.
11. A ressonância magnética gera radiações
nocivas?
Na ressonância magnética o paciente é
submetido a um forte campo magnético, e posteriormente a ondas de radiofrequência,
sem a utilização de radiação ionizante e seus efeitos secundários. Muitas das
aplicações clínicas são idênticas às da tomografia computadorizada e, assim,
pode representar uma alternativa adequada, exceto para pacientes com
contraindicações específicas.
12. A ressonância magnética é segura para
todas as pessoas?
Embora não haja riscos relacionados a
radiações ionizantes, há contraindicações para sua realização. Indivíduos que
usam marcapassos cardíacos e clipes cirúrgicos intracranianos, por exemplo,
correm riscos devido à exposição ao forte campo magnético. O paciente a ser
submetido a exames de ressonância magnética deve ser avaliado quanto a estes e
outros fatores que possam contraindicar o exame.
Fonte:
Revista Diagnóstico & Tratamento
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