Até a Idade Média, enquanto o homem tentou
explicar o movimento dos corpos celestes tendo o planeta Terra como centro do
Universo, foi impossível comprovar qualquer teoria, pois nada fazia
sentido.
A partir do século XVI, quando entrou em
voga a teoria heliocêntrica e o Sol foi finalmente admitido como centro do
Sistema, a ciência moderna ganhou forma e tivemos grandes avanços sociais. A
humanidade passou a compreender melhor as espécies e o meio ambiente em que
vive.
Essa analogia serve para nos levar a crer
que deve existir alguma coisa errada na raiz do sistema utilizado hoje para
mensurar os efeitos biológicos das radiações ionizantes no organismo humano,
pois as doses a que está submetida a maioria dos profissionais e pacientes é
superior ao admitido na legislação em vigor. Especialmente, na norma CNEN
NN.3.01 e na Portaria ANVISA n.º 453/98.
Segundo a presidenta do Conselho Nacional
de Técnicos em Radiologia (CONTER) Valdelice Teodoro, existem casos em que uma
simples mamografia emite uma dose de radiação ionizante três vezes superior ao
estabelecido como limite para o público geral em um ano. “Nesses casos, fazemos
os exames com base no princípio da Justificação, que permite realizar o diagnóstico
por imagem sempre que o benefício for maior que o risco potencial”,
admite.
Entretanto, a mamografia é apenas um
exemplo. Se considerarmos os exames de maior complexidade, como tomografias,
tratamentos químio e radioterápicos, entre outros, a necessidade de ter uma
maior clareza sobre o que pode e o que não pode aumenta.
Necessidade de um novo modelo
Dose equivalente, dose efetiva, equivalente
de dose, milisieverts, miligrays, kerma no ar, etc. São tantas unidades e
medidas que confundem a cabeça de qualquer um.
É necessário superar o atual sistema de
metrologia das radiações ionizantes e adotar um conceito mais transparente, que
dê aos pacientes e profissionais informações precisas sobre os riscos
decorrentes de cada exame e qual o limite seguro de exposição no decurso de um
ano.
Para tanto, é necessário um avanço
significativo das pesquisas sobre os efeitos biológicos das radiações
ionizantes, para dar respostas sobre a reação de cada parte do organismo aos
efeitos dos raios X. As pessoas precisam entender necessariamente com o que
estão lidando.
Para Valdelice Teodoro, as instituições
responsáveis pela regulamentação da matéria precisam abrir um debate
permanente, com a participação das autoridades e dos melhores especialistas
sobre o assunto, a fim de nos aproximar de um cenário menos nebuloso.
“Em minha opinião, devemos convencionar uma
tabela de doses e riscos, para que as pessoas saibam ao que estão se
submetendo. Sabemos que não é possível fazer algo plenamente universal, pois o
efeito da radiação depende de inúmeras variáveis. Contudo, acredito que podemos
avançar e educar melhor as pessoas se caminharmos nesse sentido”, argumenta a
presidenta do CONTER.
A ciência radiológica se torna mais exata
na medida em que conhecemos, compreendemos e respeitamos as inseguranças.
Independente do que aconteça, a principal constante da metrologia/dosimetria
das radiações ionizantes continuará a ser a variável da incerteza. Para se
proteger e cuidar de seus pacientes, o profissional deve usar o dosímetro e
demais equipamentos de proteção individual (EPI). Afinal, risco zero não
existe.
Fonte:
Conter