Médicos brasileiros
estão reduzindo os pedidos de tomografia e substituindo o exame por outros que
não emitem radiação ionizante, como o ultrassom e a ressonância magnética.
A
iniciativa, confirmada pelo CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico
por Imagem), ocorre após estudos recentes revelarem que até 2% dos cânceres nos
EUA podem estar relacionados ao uso desse tipo de radiação.
Também
está em discussão na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a
revisão de uma portaria de 1995 que regulamentou a radiologia no Brasil. A nova
versão do documento vai estabelecer o limite de radiação que os pacientes devem
receber em um exame radiológico.
A
radiação ionizante pode causar morte celular, e a probabilidade de câncer é
proporcional à dose recebida. Hoje não há um limite estabelecido de quantos
exames uma pessoa pode fazer para estar segura. A orientação é quanto menos,
melhor.
Estudos
apontam que o risco de câncer aumenta quando a exposição à radiação, que é
cumulativa, passa de 40 millisieverts (mSv). Em uma tomografia computadorizada
de abdome, por exemplo, o paciente se expõe de 2 mSv a 10 mSv de radiação
ionizante. Se for obeso, a dose chega a ser o dobro.
A
preocupação cresceu porque, nos últimos anos, a tomografia passou a ser um dos
exames mais pedidos pelos médicos e, muitas vezes, sem necessidade. Nos EUA,
ela responde por 50% de toda radiação recebida em exames. Estima-se que até 40%
dos exames feitos por ano sejam desnecessários. No Brasil, não há estimativas
do tipo, mas estudos mostram situação parecida.
ULTRASSOM
Para
o radiologista Fernando Alves Moreira, especialista em tomografia e porta-voz
do CBR, o comportamento dos médicos brasileiros começa a mudar. ”Como a
tomografia tem uma resolução melhor e consegue pegar alterações menores, o
pessoal pedia mais. Agora, com a preocupação da radiação, já se intercala com
ultrassom ou ressonância.”
O
urologista Miguel Srougi, professor titular da USP, é um dos que mudaram de
conduta, passando a limitar os pedidos de tomografia computadorizada no
seguimento de pacientes oncológicos. Antes,
ele solicitava uma tomografia a cada quatro meses nos casos de tumores de
bexiga, por exemplo. Agora, intercala o exame com o ultrassom. “Se der alguma
anormalidade, aí peço a tomografia. Diante das novas evidências, deve ser usada
com cautela.”
O
oncologista Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São
Paulo Octavio Frias de Oliveira, diz que há mudanças também no acompanhamento
do câncer de testículo.
“O
exame deve ser feito para complementar uma hipótese clínica, nunca para avaliar
se há um câncer quando não existe outra indicação de que isso esteja
acontecendo.”
RESTRIÇÃO
EM CRIANÇAS
Estudos
mostram que uma tomografia computadorizada em uma pessoa de 25 anos aumenta o
risco de câncer em 0,6%, em relação a quem nunca tenha feito o exame. Moreira
diz que, em crianças, o bom senso em limitar exames deve ser ainda maior.
Já
existe um movimento mundial neste sentido. Para crianças com doenças pulmonares
crônicas, já se discute dispensar algumas fases do protocolo do tratamento (que
prevê exames periódicos para análise da doença) para evitar o excesso de
radiação.
Fonte:
Folha de S.Paulo
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